Atletas: Aline e Giovani
Data: 29 e 30/04/2017
Local: Eldorado/SP
Organização: Chauas
Distância: 180km
Modalidades: Trekking, Bike, Remo
A 1 ou 2 meses atrás o atleta de corrida de aventura Geovani Zanovello, da equipe AKVA me convidou para correr a prova da Chauas. Já havíamos ensaiado correr outras provas, mas nunca dava certo.
Confesso que fiquei um pouco receosa em aceitar o convite. Primeiro porque sabia da fama das provas da Chauas (provas duras onde muitas equipes não terminam) e depois porque a última vez que eu corri uma prova desse tamanho foi em 2014. Mas ... acabei topando.
O dia da prova foi chegando e começou a bater aquele friozinho. Treino de trekking estava em dia, treino de MTB também, mas não tinha conseguido remar nem uma vezinha, isso me preocupava muito, uma coisa é remar 10km sem treinar, outra é remar 40km. Fazer o que, se não treinou, o lance é tentar ir na brutalidade mesmo.
Como moro em Florianópolis, a logística para a prova não foi tão fácil. Tive que pedir liberação no trabalho na sexta a tarde. Deixei todas as minhas coisas prontinhas na quinta à noite, coloquei tudo no carro sexta de manhã, com a ideia de partir as 12h, mas claro que não seria tão fácil, tive uns probleminhas e só consegui sair as 15h.
Dirigi até Curitiba, lá encontrei o Geovani e partimos juntos para Eldorado. Chegamos na cidade por volta das 22h30.
Fomos direto ao local de recepção dos atletas para pegar nosso mapa. Fizemos checkin no Hotel, comemos qualquer coisa e nos debruçamos sobre o mapa para plotar os pontos e entender toda a logística da prova. Só conseguimos ir dormir umas 3h da manhã.
No sábado acordei as 7h30, já com aquele friozinho na barriga. Encontrei o parceiro, tomamos um café da manhã reforçado e seguimos para o briefing. Lá encontramos amigos, conhecidos, ouvimos atentos todas as informações da prova e conhecemos também nossos “adversários”. Terminado o briefing hora de se preparar para a largada.
Finalizamos nossa caixa de apoio, ajeitamos nossas mochilas,
bikes, colocamos nossa roupicha de guerra, quer dizer de prova, batemos aquele
rango (aquele que você come sem saber quando vai ver comida descente novamente)
e partimos para o local da largada.
Muito legal esse pré-prova. Toda a galera reunida, trocando
ideia, falando das estratégias, próximas provas, se zuando, se ajudando com
pequenos detalhes, tipo a melhor forma de carregar o colete na mochila e por aí
vai.
As 14h foi dada a largada, de MTB ... todos que haviam
prometido que largariam de boa saíram a milhão, como se fossem correr uma prova
de 50k (rsrs) ... claro que estávamos juntos nessa. O trecho de MTB até o
primeiro PC1/AT1 era de uns 5km. Pensa na muvucada toda junta.
Dali partimos para um trekking de mais de 15km, com alguns
PCs. O trecho do PC1 ao PC2 foi bem tranquilo (comparado com os outros trechos
de trekking), estradão de chão com subidas fortes, sem dificuldade de
navegação.
Do PC2 para o PC3 o bicho começou a pegar. Já rolaram alguns
trechos sem trilhas bem definidas. Demos uma rateadinha rápida, mas logo
voltamos ao rumo. Assinamos o PC3 e partimos em direção ao PC4, para batê-lo tivemos
que subir até o local que imagino que tenha sido o ponto mais alto da prova,
Cruzeiro, foi sofrido, mas valeu a pena ... pensa no visual, paramos até para
uma fotinha (coisa rápida). Assinado o PC4 partimos para o PC5/AT2.
Como voltaríamos por parte do trajeto já era possível imaginar
o sofrimento que seria subir todas aquelas morrebas de bike. Não deu outra, o
pedal foi bem enrolado, rolou até umas empurradinhas em alguns pontos. Passamos
pelo PC6 e, como tudo que sobe desce, o caminho para o PC7/AT3 foi de
recompensa, pensa na descida.
Antes de chegarmos ao PC7 mais um pequeno errinho.
Descobrimos porque encontramos um louco de mochila, lanterna, caminhando no
sentido em que estávamos correndo. Ao perguntarmos para onde ele estava indo
descobrimos que os loucos éramos nós (kkkk).
Bikes entregues partimos no trekking em direção ao ponto
onde iniciaríamos o remo, PC8/AT4. Trekking pelo asfalto com carros passando,
nada agradável. Depois de mais uma pequena rateada, percebida rapidamente,
seguimos ao local onde estavam os barcos.
O trecho de remo era de uns 26km, já era noite, o rio era
super largo e ficava meio difícil se orientar. Eu passei a remada toda
esperando (preocupada) as tais corredeiras, mas eram lenda (aff). Depois de
umas 2h40 chegamos ao PC9/AT5. Pensa no barranco para entregar os barcos
(verdade que estava avisado no racebook), sorte que haviam alguns tiozinhos
gente-boa para ajudar.
Nesse ponto estávamos a uns 23min da primeira dupla mista.
Eu estava encharcada, apurada para ir banheiro (não, não consegui fazer no rio)
e morrendo de frio. A vontade era sair
correndo, mas fiz o que tinha que fazer enquanto meu parceiro analisava o mapa
(ele não sente frio). Coloquei meu anorak, fiz xixi e peguei umas comidas. A
promessa era de que o próximo trekking, de uns 23k, seria duro, duro não,
duríssimo.
Combinamos de fazermos esse trekking mais de boa, focados em
não se perder muito (deve ser nesses rasga-mato que o pessoal desiste das
provas da Chauas). Já começamos mal. Nos desconcentramos comendo e conversando e
quando chegamos na entrada ficamos inseguros, tipo, será que já é aqui?
Passamos mais 1k desse ponto e voltamos para ter certeza de que aquele era realmente
o ponto.
Antes de iniciarmos um dos trechos mais difíceis desse
trekking, com um dos tais indicativos de
rumo (sério essa era a legenda), vulgo rasga-mato, encontramos o quarteto
Guartelá. Seguimos juntos, nos ajudando no caminho. Nessa parte do trekking não
existiam trilhas e o lance era se orientar, seja pela altimetria, pelos
pequenos rios, tudo é válido. O trajeto foi bem duro, mas inacreditavelmente
(pelo menos para mim) chegamos certinho numa trilha, que aparecia no mapa após
o tal indicativo de rumo.
Nessa parte do trekking meu parceiro já estava reclamando de
assaduras, cedi minha pomadinha para ele, mas bem sei que depois que assou, o
negócio só piora. Dali seguimos para o paraíso, quer dizer para o PC10, onde
estava nossa caixa de abastecimento, pensa na alegria das crianças (uhuuuuuuu).
Nesse PC soubemos que a dupla que estava na nossa frente havia aberto mais de
1h nesse trekking, tudo bem, bora fazer nossa prova ...
Na teoria até sei que se estamos competindo devemos fazer
transições rápidas e talz, mas olha nesse ponto esquecemos completamente dessa
regra. Sentamos, troquei de blusa, de tênis, de buff, comi sanduiche, ovo
cozido, tomei coca, meu parceiro caprichou na vaselina e só então partimos para
a segunda parte do trekking, renovados. Eu ainda levei um kit-kat na mão, bem
feliz. Guartelá partiu antes de gente.
Logo no início desse trekking tínhamos uma escolha de
caminho, tentamos seguir o que parecia mais fácil e depois de um tempo
começamos a desconfiar. Azimute não estava mais batendo e a estrada, tomada de
bananais e bifurcações parecia que terminaria a qualquer momento. Decidimos
voltar. Nessa parte do trekking algo que eu temia aconteceu, comecei a sentir
sinais de desidratação, sentia vontade de ir ao banheiro o tempo todo. Parei um
bocado de vezes para regar o bananal. Para ajudar ... começou a chover.
Quando já estávamos no caminho correto encontramos o Nego e
o Mildo, dupla Guartelá. Nossa, como é bom encontrar conhecidos no caminho, dá
uma renovada, mudam os papos, as piadas (rsrs).
Antes de iniciarmos mais um trecho com indicativos de rumo deveríamos passar pelo PC11, virtual. Esse PC
era para ser uma camisa de alguma das provas da Chauas, mas no local só havia
um banner da Chauas, tá valendo. Ali por perto encontramos um quarteto perdido,
disseram ter procurado bastante pelo PC sem encontra-lo, não entendemos nada
porque não precisamos bater nenhuma cabeça para acha-lo. O quarteto veio junto.
Dali seguimos todos para o segundo trecho de rasga-mato
pesado. Estava chovendo o trecho subia muito rápido, tinha muita lama e o que
já era difícil ficou ainda pior. Literalmente me arrastei morro acima. Chegamos
em um ponto onde não dava para continuar, tivemos que voltar um pouco.
Encontramos um caminho um pouco melhor e a partir dali o grupo se separou,
quarteto para um lado, duplas para o outro. Depois de se lanhar bastante e se
grudar várias vezes em palmiteiros cheios de espinhos encontramos a trilha.
Começamos a descer tudo que subimos e no caminho passamos
pelo PC12, o cara estava bem quentinho, dentro do carro (na hora bate uma
vontadezinha, mas o parceiro já te olha de cara feia rsrs). A partir dali renasci
de novo. Parei de fazer xixi e voltei a me sentir bem. Comi um pouco e saímos trotamos
rumo ao P14/AT6.
Viva, vamos pedalar. Sério, umas das melhores coisas das
Corridas de Aventura é essa troca de modalidades. Quando tu já não aguenta mais
correr você senta na bike e tudo muda. Ficamos fortões de novo, quase zerados
(rsrs), os amigos normais que ouvem isso não acredita, mas é assim mesmo. Esse
trecho de bike seria de uns 33km. Largamos num asfaltinho (eeeee), podem me
condenar, mas tem horas que pedalar no asfalto é mega bom (vai joga pedras).
Amanheceu e seguimos para a próxima parada, PC15, na praça.
Ali trocamos nossos tênis pelas sapatilhas (com permissão da organização pudemos
acessar o carro), porque a partir daquele ponto seria só bike e remo.
Meu parceiro viu uma padaria aberta e encasquetou que queria
tomar café, falei para ele que a 3ª equipe devia estar na nossa cola, que esse
tipo de parada demora demais, tem que fazer pedido, pagar e bla bla bla, mas
ele insistiu, insistiu, e eu cedi. Sentamos, comemos (eu pão de queijo e ele
coxinha) e tomamos coca e energético (meu Deus, que dieta saudável, ein?).
Quando estávamos no caixa eis que vimos a 3ª dupla, nossos amigos da Tamujunto,
Denise e Daniel passando. Só dei lancei aquele olhar fulminante para o Geovani,
ele deu aquela risadinha sem graça e partimos.
Logo passamos a dupla, mas agora sabíamos o quão perto eles
estavam, sabíamos também que eles estavam mais treinados no remo e que se não abríssemos
na bike eles iriam nos passar no remo.
Pedalamos focados até o PC16/AT7. Nessa altura do campeonato
meu parceiro não pensava mais em nada, só nas assaduras (que dó). Chegando no
PC16 fomos informados que o remo havia sido cancelado (o caminhão com os barcos
atolou) e que seguiríamos para os próximos PCs de bike. Isso daria mais uns 50k
de pedal até o final (acho que deu mais). Mesmo cansados, essa mudança foi boa
para nossa dupla, estávamos conseguindo manter um ritmo bom no pedal.
Quando passamos pela cidade novamente paramos para comprar
água no posto. Nessa altura do campeonato qualquer parada é motivo para sentar,
comer, Geovani foi tentar melhorar a situação das assaduras... nisso vi a dupla
Guartelá passando. Meu receio era ver a dupla Tamujunto. Dei uma apressada no
parceiro.
Seguimos para o PC17, segundo PC virtual. Nesse trecho pegamos
um caminho errado e tivemos que voltar um bocadinho. Nessa hora eu já estava
com tanto sono que dei umas belas piscadas em cima da bike. Ficava tentando me
distrair, tapinha na cara, água, mas nada adiantava. Encontrado o caminho certo
foi a vez do Geovani sentir aquele sono brabo. Paramos mais uma vez, sentamos,
comemos, demos umas risadas da situação (sim porque o figura do parceiro já
estava passando pomada até pedalando, uma mão no guidão e outra passando
pomada, isso, bem lá nas partes).
Bora, que o PC17 está próximo.
Quando chegamos no PC17 o Geovani sentou num banquinho,
debaixo de um sol de rachar (que graças a Deus apareceu poucas vezes durante o
dia), e queria tirar um cochilinho (vê se mereço rsrs), eu além de não deixar
fiquei cutucando ele para seguirmos. Nesse meio tempo quem aparece? Exato, a
dupla Tamujunto, ainda zuando a gente: Vocês aqui? Estão esperando a gente? Só
pude rir ...
Seguimos juntos, em alguns pontos nos separávamos, depois
nos encontrávamos de novo. Só fiquei pensando em como ia ser tudo a partir daquele
momento.
Numa das bifurcações passamos primeiro, viramos à direita e quando
olhando para trás vimos que eles haviam virado à esquerda. Paramos para
analisar o mapa, o caminho que escolhemos também nos levaria ao PC18, mas o
caminho que a Tamujunto escolheu se mostrou mais fácil, voltamos.
Quando chegamos no PC18, onde teríamos acesso a nossa caixa
novamente, a Tamujunto já havia passado. O staff
nos falou que eles chegaram ali assinaram, nem mexeram na caixa, e saíram em
disparada. Na hora fiquei um pouco confusa, sair correndo atrás deles ou parar,
pegar algo para comer e depois partir. Escolhi a última opção (acho que pelo
Geovani ele partiria mais rápido). Fiz xixi, peguei um sanduiche, tomei uma
coca e me senti pronta. Bora...
Saímos a mil, Geovani me olhou e perguntou: quantos quilômetros
tu achas que consegues andar nessa velocidade, pensei um pouco e respondi uns 7-8km.
Ele falou, pois é são uns 30km até a chegada. Juro que gelei. Mas decidi partir
para a morte. Pedalamos muito forte naquelas morrebas e nada de alcançar a
Tamujunto, só pensava comigo, não é possível.
O trecho final era de uns 12km de asfalto. Combinamos de revezar
o vácuo, primeiro cada um 2min ... acabamos baixando para 1min (tava fueda). Certamente
fizemos o trecho de asfalto numa média perto de 35km/h, dada essa média, passados
alguns kms tive certeza de que a dupla não estava na frente. Dito e feito.
Assinamos o PC da chegada as 15h21. Nós jogamos no chão, mortos (mas realizados)
e ficamos esperamos a Tamujunto chegar. Por fim soubemos que eles escolheram
outro caminho.
Fomos para o Hotel, demos uma ajeitada no visu (se é que é
possível depois de uma prova dessas) e voltamos para a pracinha, comemos e
aguardamos a premiação.
Foi bom demais ver 3 equipes do Sul no Pódio: duas duplas
mistas, Akva e Tamujunto, e uma dupla masculina, Guartelá. Além disso, chegaram próximos do pódio os quartetos
Guartelá e Os Pamonhas. Superação total da galera toda.
Na segunda, tomamos café e partimos para Curitiba. Peguei
meu carro e segui para Floripa. Passei no caminho para comer um pastel (na
verdade comi dois) com caldo de cana (depois de uma prova dessas temos direito)
e quem eu encontro? Advinhou? Isso, a dupla Tamujunto, sério, rimos muito. Já
sai do carro procurando o PC ... onde eu assino?
5 comentários:
Que aventura minha amiga! Meus parabéns pela superação e conclusão da prova, sem dúvida é um grande desafio, físico e psicológico. Tem que ter muito preparado. Por isso, mais uma vez, parabéns e obrigado por compartilhar esses momentos que despertam a imaginação daqueles que não conhecem a atividade e também ajuda a memória a lembrar futuramente de cada detalhe. Grande abraço. ;)
Que top Aline. Me senti ali com vocês sofrendo e aproveitando. Maravilhoso o relato. 😊
Que top Aline. Me senti ali com vocês sofrendo e aproveitando. Maravilhoso o relato. 😊
Obrigada Nelson, meu amigo Querido, grande incentivador da escrita. Confesso que ando desanimada para escrever no blog, sempre pensamos que ninguém vai ler, mas apenas um comentário como o seu já faz valer a pena.
Bjaooo
Brigadaaaa Alisson. Ainda vou te arrastar para uma corrida de aventura. Vai treinando. rsrs
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